As almas sebosas dos Quislings baixaram em traidores do mesmo quilat
Enio Lins
CELSO DE MELLO é professor, jurista, ministro aposentado do STF, decano daquele corte de 2007 a 2020, e seu presidente entre 1997 e 1999. No dia 21 deste, escreveu uma carta aberta ao Supremo Tribunal Federal. Texto notável.
QUEM SE LEMBRA do termo “Quisling”? Assim como “Quinta-coluna”, faz parte dos vocabulários criados na II Grande Guerra Mundial. Significa “traidor da pátria”, e/ou “traíra” – como a gíria brasileira rotula quem atraiçoa. Vidkun Quisling (1887/1945) tornou-se exemplo de vilania quando aceitou ser governante-marionete dos nazistas na Noruega. Ao final da guerra, foi julgado e fuzilado por alta traição. Celso de Mello, em boa hora, traz o fundo da botija da cultura o conceito, colocando-o como carapaça perfeita sobre os quengos da lesa-pátria que, no colo de Trump, oferece a soberania brasileira com desfaçatez e canalhice tais que envergonharia até o finado Vidkun.
“MAIS DO QUE UMA OFENSA sem causa, essa prepotente deliberação governamental americana, fundamentada em fundamento destituído de veracidade (mendaz, portanto), ao investir, absurdamente, contra o Supremo Tribunal Federal e os seus íntegros e honrados magistrados, desrespeita, profundamente, o nosso País e a dignidade do povo brasileiro!”, escreveu Celso de Mello, e foi além: “Mais do que uma ofensa causa sem, essa prepotente deliberação governamental americana, fundamentada em fundamento de constituído de veracidade (mendaz, portanto), ao investir, absurdamente, contra o Supremo Tribunal Federal e os seus íntegros e honrados magistrados, desrespeita, profundamente, o nosso País e a dignidade do povo brasileiro!”.
“MAIS DO QUE NUNCA , e em razão de recentes acontecimentos, entre os quais, a ocorrência da revogação de vistos, torna-se necessário identificar expor e punir, nos termos da lei e respeitado o direito ao 'due process of law', os 'quislings' nacionais que, ressentidos, despojados de qualquer dignidade e destituídos de qualquer sentimento patriótico de respeito e apreço por nosso país, agem, insidiosa ou especificamente, contra os interesses do Brasil e do seu povo, conspirando, sem pudor e de modo desonroso aqui ou em terras estrangeiras, com o sórdido (e traiçoeiro) objetivo de submeter nossa pátria, os seus valores e tradições de que tanto nos orgulhamos ao domínio de potências estrangeiras, buscando reduzir o Brasil à condição inferior e degradante de uma simples colônia”. Pontaria certeira, mestre Celso de Mello. Bravo!
MAIS DO QUE NECESSÁRIA, a epístola de Mello (o Celso) devolve à razão o sentido patriótico. Em função do bolsonarismo doentio, a palavra “patriota” foi degenerada numa prática exibicionista de ódio, covardia, golpismo – e, patética contradição, passou a ser usada como biombo para um entreguismo exacerbado. O patriotarismo (neologismo acertado) bolsonarista nada mais é que a abjeta traição à pátria, a desmoralização do verde-amarelo que outrara era referência da unidade e orgulho nacional. Muito antes do entreguista Dudu Bananinha chafurdar na lama da Casa Branca, seu pai e mentor, o famigerado “mito” já se esmerava em bater continência para a bandeira estadunidense e em babar pegajosos “eu te amo...” para Donald Trump.
CELSO DE MELLO , em sua carta histórica, recupera o conteúdo de palavras antes esquecidas, aviltadas ou invertidas: Traidor da pátria é traidor da pátria. Sórdido é sórdido. Covarde é covarde. Mendaz é quem só diz mentiras. E “os 'quislings' nacionais que, ressentidos, despojados de qualquer dignidade e destituídos de qualquer sentimento patriótico de respeito e apreço por nosso país” são esses milicianos que, para dar fuga a um réu e assaltar a Democracia à mão armada, ficam de quatro para a primeira potência estrangeira que se dispõe a violento a autonomia brasileira.
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